segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Fisionomia da Paisagem


"Não há rosto que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há paisagem que não se povoe de um rosto amado ou sonhado, que não desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não evocou as paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido de suas linhas e de seus traços o complemento inesperado?"

Ligeiramente modificado de Gilles Deleuze e Felix Guattari, 1995

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sob as lentes de Autumn Sonnichsen


Não há limites para as lentes da fotógrafa Autumn Sonnichsen. Uma sala de cirurgia, um terreiro de candomblé, as belas modelos e celebridades, os tipos comuns e o feioso minhocão. Cavalos em movimento, mulheres nuas em cima de cavalos, ou trepadas em árvores, coqueiros e até em cima de uma vitória-régia. Nada a reprime quando o assunto é foto. Numa entrevista com Amaury Jr., deixou o apresentador corado quando sugeriu que ele se despisse para fotografá-lo. Com jeito delicado e doce, conquista a todos. Fotografa para as mais importantes revistas masculinas brasileiras. Autumn nasceu em Los Angeles, mas fala um português quase perfeito, apesar de ser americana. O lance com a foto começou na adolescência. Aos 14, 15 anos, resolveu fazer um curso básico. Aos 16, terminou o colégio e foi estudar história da arte. Um ano mais tarde, pegava a estrada. Foi para Paris, depois Berlim e, então, África do Sul. Um dia, ouviu de um fotógrafo: “O mais importante é descobrir seu tipo de mulher. É através do seu tipo de mulher que você encontra sua linguagem.” Autumn sempre soube qual era o seu tipo de mulher. E sempre soube do que gostava em fotos, pinturas, imagens. Ela curtia os nus pintados por Ingres e Courbet, as cores das telas de Rothko, as fotos de Edward Weston e Eikoh Hosoe, os textos de Yukio Mishima. Hoje, quando fala de fotografia, cita nomes como David LaChapelle, mas não se preocupa muito com o que os outros fazem. Nunca se preocupou. Autumn curte textura, detalhe, sutileza. E há frequentemente algo fora da ordem nas imagens que ela faz. "Gosto que a fotografia seja como um sonho, uma situação que até pode ser real, mas com alguma coisa ali que te lembra que é sonho" – explica. Ela fotografa o fashion e o sexy. Se interessa pelas porn stars em deshabillé, modelos caindo de cansadas em aeroportos, prostitutas tomando o café-da-manhã após uma noite de trabalho, as sobras da mulher que possui uma vida hipersexual. Vive desde 2005 entre Nova Iorque e o Brasil. Quando não está fotografando, gosta de tomar um martini, ouvir Dolly Parton e ficar na cama, sobras da mulher que possui uma vida hiperativa.








sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tecendo a manhã

1

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de Melo Neto
(A Educação pela Pedra, 1962)

Concretismo

A
o
som
da Sol
a
melodia
crava
claves
no seu
corpo
e
a
harmonia
sobre a
pele
clama
a
poesia
à flor da pele
________________________________________________________________

ela chega em casa tira a roupa entra no boxe liga o chuveiro olha a água cair pensa nele molha os pés pensa nele molha o corpo passa o xampu espera um minuto enxágua o cabelo passa o creme hidratante espera dois minutos enxágua o cabelo passa o sabonete passa o condicionador espera dois minutos enxágua o cabelo enxágua o corpo desliga o chuveiro sai do boxe calça o chinelo pega uma toalha enrola na cabeça pega outra toalha se enxuga veste um roupão vai para o quarto senta em frente ao espelho passa o creme para rugas passa o creme para os seios passa o hidratante para as pernas seca o cabelo prende o cabelo tira o roupão veste a calcinha veste uma blusa deita na cama pega um livro tenta ler desiste pensa em ligar para ele desiste liga a tevê programa para desligar sozinha fecha os olhos pensa nele vira pra um lado pensa nele vira pro outro pensa nele resolve assistir a tevê dorme sonha com ele a televisão desliga
________________________________________________________________


Erik Vilela - Baseadas no livro 'O cão sem plumas' (João Cabral de Melo Neto)

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E X T O R S Ã O M E D I A N T E S E Q U E S T R O
T R Á F I C O D E E N T O R P E C E N T E S
P R O S T I T U I Ç Ã O I N F A N T I L
L A V A G E M D E D I N H E I R O
H O M I C Í D I O D O L O S O
C O N T R A B A N D O
I M P U N I D A D E
C O R R U P Ç Ã O
E D U C A Ç Ã O

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A Pidona


Ela pede atenção
Eu dou!

Ela pede carinho
Eu dou!

Ela pede presentes
Eu dou!

Ela pede respeito
Eu dou!

Ela pede beijos
Eu dou!

Ela pede sexo
Eu dou!

Ela pede amor
(...)

Ela pede demais!
________________________________________________________________

e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r e v o
e s c r a v o


Extraídos do blog http://concretismo.zip.net/


Concretismo cibernético?

Um século e meio sem dor

Nos primórdios alguns cirurgiões consideravam a dor uma conseqüência inevitável do ato cirúrgico, não havendo uma preocupação, por parte da maioria deles, em empregar técnicas que aliviassem o sofrimento relacionado ao procedimento.
As primeiras tentativas de alívio da dor foram feitas com métodos puramente físicos como pressão e gelo, bem como uso de hipnose, ingestão de álcool e preparados botânicos.
Por volta dos séculos IX a XII a esponja soporífera tornou-se um dos métodos mais populares de prover analgesia. Preparada a base de mandrágora e outras ervas, tinha como seus principais compostos morfina e escopolamina

O éter dietílico já era um composto conhecido quando no século XVI Paracelsus observou suas propriedades anestésicas em galinhas.

Cartaz do espetáculo mambembe onde Colton utiliza o Óxido Nitroso, tido com 'Gás Hilariante'.

O Cirurgião-Dentista Horace Wells percebeu as propriedades anestésicas do óxido nitroso em 10 de dezembro de 1844, quando participou de uma exibição do "cientista itinerante" Gardner Quincy Colton.
Na ocasião Wells notou que um jovem chamado Samuel Cooley não se deu conta que havia sofrido uma lesão na perna enquanto estava a inalar o óxido nitroso. Em 1845 Wells fracassou em sua tentativa de demonstrar publicamente uma extração dentária sem dor com o uso do óxido nitroso. Tal fracasso o perturbou profundamente culminando com seu suicídio em 1848. Na verdade o óxido nitroso é uma droga mais analgésica do que anestésica (é um fraco anestesico).

Reprodução artística da primeira anestesia realizada por Morton no Massachussets General Hospital

Em 16 de Outubro de 1846 a anestesiologia teve seu marco inicial com William Thomas Green Morton realizando uma anestesia com éter, chamado por ele de Letheon para proteger seu segredo, no paciente Edward Gilbert Abbott para que o cirurgião John Collins Warren excisasse um tumor que lhe tomava a glândula sub-maxilar e uma parte da língua. O feito se deu no Hospital Geral de Massachussets, Boston. Morton chegou atrasado* devido a um problema no inalador e a sessão quase foi suspensa por isso. Chegou esbaforido, desculpando-se pelo atraso e logo foi instruindo Abbott a respirar por uma das aberturas do inalador de vidro. Depois de perder a consciência e deixar cair a cabeça, Morton se vira para Warren e diz: 'Seu paciente está a sua espera Doutor!'. Warren fez a excisão do tumor com a rapidez habitual e o paciente não desferiu nenhum grito de dor. Depois de terminar, Warren, emocionado, fala para a plateia incrédula: 'Isso, senhores, não é nenhum embuste'. O impassível cirurgião chorava. Desde esse dia a humanidade venceu a dor. Saímos das trevas.

Inalador utilizado por Morton

Em 1847 Roberto Haddock Lobo e Domingos de Azevedo Marinho realizaram a primeira anestesia baseada em éter que se tem relato no Brasil. Existem registros de que até meados da década de 70 o éter ainda era utilizado no Brasil como agente anestésico combinado. Em 1927 o Prof. Leonidio Ribeiro fez uso do óxido nitroso. O ciclopropano foi utilizado pela primeira vez em 1936 por Álvaro de Araújo Aquino Sales. O ciclopropano era uma substância gasosa inflamável, existindo diversos relatos de explosão em centros cirúrgicos, onde o mesmo se encontrava mal acondicionado. Em 1948 foi fundada a Sociedade Brasileira de Anestesiologia. 


*Nota do blog: Se na primeira anestesia realizada no mundo Morton chegou atrasado, todos os demais colegas anestesistas Brasil afora estão perdoados!




C'était un rendez vous



C'était un rendez-vous (em português: Era um encontro) é um curta-metragem, feito em 1976 por Claude Lelouch. No filme, é mostrado um condutor andando em alta velocidade pelas ruas de Paris, às 5:30 da manhã.
Devido a limitada disponibilidade de vídeo-tapes do mesmo, ganhou status de cult e também posteriormente muita admiração dos fãs das quatro rodas, devido ao abuso que o condutor faz, e pelo estilo despojado de guiar.
Dada a crescente popularidade e a falta de cópias originais, foi recentemente remasterizado, baseando-se no negativo original de 35mm, e lançado em DVD, tendo forte divulgação pela Internet. Este filme é um exemplo do que se chama cinéma vérité, já que foi feito em ângulo único e sem edição, sendo usada uma câmera instalada na parte dianteira do carro para tal. A duração foi limitada ao tempo máximo de gravação permitido pela câmera, que era de menos de 10 minutos.

Lelouch aproveitou-se do novo equipamento que tinha em mãos, uma câmera giroscópica (ou seja, que possibilita efeitos de movimento), e iniciou a idéia para fazer o filme. A câmera tinha um tempo curto de gravação e registrou o condutor guiando, loucamente, até chegar na Basílica Sacre Cœur, em Montmartre.

O filme mostra nos seus quase nove minutos de duração um condutor dirigindo seu carro pelas ruas de Paris, nas primeiras horas da manhã, acompanhado do som das altas rotações do motor, com várias mudanças de marchas repentinas e pneus guinchando. Tudo começa no túnel da Périphérique, mostrando uma imagem a bordo de um carro em que não é visto, indo em direção a Avenue Foch. Locais famosos da cidade são mostrados no filme, durante o trajeto em que é feito, tais como o Arco do Triunfo, o obelisco da Praça da Concórdia, assim como também a famosa avenida Champs-Élysées. Pedestres não são respeitados, pombos que estavam nas ruas são dispersados, sinais vermelhos são ignorados, vias de mão-única e de contramão são percorridas e faixas centrais são cortadas. O carro nunca é mostrado, mas devido à filmagem, sabe-se que a posição da câmera está na parte da frente. No final do filme, o carro é estacionado na calçada da colina da Sacre Coeur. O protagonista sai do carro e encontra-se com uma mulher de cabelos loiros, enquanto se ouve sinos tocando ao fundo .
A mesma ideia foi usada, tempos depois, em alguns filmes do gênero, como Getaway in Stockholm e Ghost Rider

Ferrari 275GTB

Vários grupos de discussões espalhados pela Internet reivindicavam que o carro usado no filme era uma Ferrari 275GTB, que o próprio Lelouch possuia, ou então algum outro modelo de carro, como o Alpine-Renault ou um protótipo de Le Mans. Partes do carro ou até mesmo sua cor nunca foram mostrados até então.
Já para o piloto anônimo, as especulações da época basearam-se nos pilotos ativos e mais conhecidos da época, tais como: Jacques Laffite, Jacky Ickx, Jean-Pierre Beltoise, Jean Ragnotti, Johnny Servoz-Gavin, dentre outros.
Cálculos feitos por grupos independentes mostraram que o carro nunca passou de 140 km/h. Lelouch afirmou que a velocidade máxima atingida pelo carro foi de 200 km/h.

Mercedes-Benz 450SEL 6.9

Em 2006, trinta anos depois do lançamento do filme, o diretor francês revelou, em uma espécie de "making of", que o carro que carregou a câmera não foi a Ferrari 275GTB, como todos pensavam, mas sim uma Mercedes-Benz 450SEL 6.9. Este carro tem câmbio automático e chega à velocidade máxima de 230 km/h. As mudanças para marchas altas e o som das altas rotações de motor indicam que o carro está a mais de 200 km/h; no entanto, a velocidade do carro em relação à velocidade em que o som reproduz parece não ter relação. Então, como já se especulava, o som utilizado é um overdub do 275GTB, dando assim a impressão de velocidades muito mais elevadas. Isto foi confirmado por Lelouch na mesma entrevista.

Lelouch focalizando as lentes da câmera giroscópica minutos antes de rodar o filme

Ao mesmo tempo em que a informação do carro verdadeiro foi revelada, uma foto foi divulgada no site oficial do diretor (e que depois, de modo instantâneo, se espalhou pela Internet), mostrando Lelouch ajustando a câmera giroscópica utilizada no filme. Pela foto, vê-se que este era realmente de ação real, sem efeitos de cinema, como argumentava Lelouch.

Mas o filme exibe uma negligência criminal em decorrência do risco de morte corrido pelos pedestres e da segurança dos motoristas. Na primeira exibição, Lelouch foi preso e liberado logo depois, sem nenhuma punição sofrida. A distribuição do filme poderia ser vista como ameaça, já que poderia incentivar os motoristas a andar perigosamente (e como loucos) pelas ruas, desrespeitando todas as leis do trânsito (incluíndo semáforos). Atribuíções do próprio Lelouch indicam que ele admitiu o ultraje moral da película e que estava preparado para os futuros riscos e problemas resultantes.
 
A rota utilizada foi a seguinte (em ordem): Boulevard Périphérique - Avenue Foch - Place Charles-de-Gaulle - Avenue des Champs-Élysées - Place de la Concorde - Quai des Tulieres - Arc de Triomphe du Carrousel - Rue de Rohan - Avenue de l'Opéra - Place de l'Opéra - Fromental Halévy - Rue de la Chausée d'Antin - Place d'Estienne d'Orves - Rue Blanche - Rue Pigalle - Place Pigalle - Boulevard de Clichy (rua usada após abortar a rota pela Rue Lepic) - Rue Caulaincourt - Avenue Junot - Place Marcel Aymé - Rue Norvins - Place du Tertre - Rue Ste-Eleuthère - Rue Azais - Place du Parvis du Sacré Cœur


Talvez (Cake, 1996)



Cake - Perhaps, perhaps, perhaps
Fashion Nugget, 1996

Talvez (Roy Lichtenstein, 1965)

Talvez (Pablo Neruda, 1959)


Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és

E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
(Soneto LXIX)



domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Day Made of Glass...




A Corning Incorporated é líder mundial em cerâmica e vidros de alta tecnologia. Uma pequena amostra do que nos reserva o futuro.

Picadinho de Roteiro

Kill Bill (Volume 2)


killbill

Bill (David Carradine) atira um dardo com o soro da verdade em Beatrix Kiddo (Uma Thurman). Enquanto a droga não faz efeito ele conversa com ela sobre o seu herói de quadrinho favorito.   Roteiro: Quentin Tarantino

Bill – Como você sabe, eu sou um grande fã de quadrinhos. Especialmente os de super-heróis. Acho a mitologia dos super-heróis fascinante. Por exemplo, meu herói favorito, o Super-Homem. Não é um grande HQ, nem é bem desenhado. Mas a mitologia não só é genial, ela é única.

Beatrix  – Quanto tempo essa merda leva para fazer efeito?

Bill – Uns 2 minutos. O suficiente para eu concluir minha idéia. Todo mito de super-herói tem o herói e seu alter ego. Batman é Bruce Wayne. O Homem-Aranha quando acorda pela manhã é Peter Parker. Ele precisa pôr um uniforme para virar o Homem-Aranha. E é aí que o Super-Homem se diferencia dos demais. O Super-Homem não virou Super-Homem. Ele nasceu o Super-Homem. Quando ele acorda de manhã ele é o Super-Homem. O alter ego dele é o Clark Kent. Seu uniforme com o “S” vermelho é o cobertor no qual os Kent enrolaram o bebê quando o acharam. Essa é a roupa dele.  O que Kent usa, os óculos, o terno, este é o disfarce que o Super-Homem usa para se passar por um de nós. Clark Kent é como o Super-Homem nos vê. E quais são as características de Clark Kent? Ele é fraco, inseguro e covarde. Clark Kent é uma crítica do Super-Homem à raça humana.


Matrix versus George Bush


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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os melhores vinhos Bordeaux (e do mundo)

A reputação do nome Bordeaux é tão antiga e tradicional quanto o significado de uma palavra igualmente única para os franceses: terroir. Sem tradução em nenhum outro idioma, significa a relação mais íntima entre o solo e o micro-clima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva, que expressa livremente sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho.

Já a palavra Bordeaux deriva de bord de l’eau que significa “beira d’água", em razão dos rios Garonne e Dordogne, que se juntam formando o estuário Gironde, que desemboca no Oceano Atlântico. É considerada a maior e mais importante região vinícola do mundo com, aproximadamente, 115 mil hectares de vinhedos.


Mas "Bordeaux" passa a ser sinônimo de qualidade oficialmente a partir de 1855, quando foram classificados os melhores vinhos daquela região de domínio. A história conta que o objetivo da classificação se deve a um pedido do Imperador Napoleão III (neto de Napoleão Bonaparte) ao Sindicato dos Corretores de Vinho para que fossem exibidos os melhores rótulos na Exposição Universal de Paris do ano seguinte.

A classificação se baseava no preço (que na época se relacionava diretamente com a qualidade) e na reputação dos Châteux, que pertenciam exclusivamente a terroirs Médoc e adjacentes para tintos, bem como os Sauternes/Barsacs para brancos. Entre os tintos, inicialmente foram classificados 58 propriedades em: Premiers Cru, Deuxièmes Cru, Troisièmes Cru, Quatrièmes Cru e Cinquièmes Cru

Poucas modificações foram realizadas no seleto "clube" excepcional. Primeiramente quando, em 1856, o Château Cantemerle obteve a classificação Cinquième Cru. Mais recentemente em 1973, quando o Château Mouton Rothschild foi promovido de Deuxièmes Cru para 1er Cru, após décadas de intenso lobby exercido pelo poderoso Philippe de Rothschild. Uma mudança menos conhecida aconteceu com a eliminação do Château Dubignon, um Troisièmes Crus de St.-Julien que acabou incorporado ao Château Malescot St. Exupéry.

Rótulo de um 1er Cru. Nem sempre existe qualquer referência à classificação num Bordeaux de qualidade.

Chateau Margaux

Margaux de 1982

Adega Lafite Rothschild

Assim, atualmente, a lista com 61 propriedades é a que se segue:

Premiers ou 1er Crus
  • Château Lafite Rothschild, município de Pauillac, Haut-Médoc (antigamente Château de la Fite, Laffite, Lafitte)
  • Château Latour, município de Pauillac, Haut-Médoc (antigamente La Tour de Segur)
  • Château Margaux, município de Margaux (antigamente Château Margau)
  • Château Haut-Brion, município de Pessac, Graves (antigamente Château Hautbrion, Houtbrion, Ho-Bryan, Obryan, Ho Bryen)
    O único Château situado em Graves, ao invés de ser em Médoc e, portanto, o único Château da lista a que se permite vender vinho branco seco com mesmo nome e denominação do tinto.
  • Château Mouton Rothschild, município de Pauillac, Haut-Médoc
    (reclassificado de Second Cru em 1973) (antigamente Château Branne-Mouton)

Seconds Crus, às vezes escrito como Deuxièmes Crus

  • Château Rauzan-Ségla, Margaux
  • Château Rauzan-Gassies, Margaux
  • Château Léoville-Las Cases, St.-Julien
  • Château Léoville-Poyferré, St.-Julien
  • Château Léoville Barton, St.-Julien
  • Château Durfort-Vivens, Margaux
  • Château Gruaud-Larose, St.-Julien
  • Château Lascombes, Margaux
  • Château Brane-Cantenac, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château Pichon Longueville Baron, Pauillac (conhecido normalmente como Pichon Baron)
  • Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande, Pauillac (conhecido normalmente como Pichon Lalande ou Pichon Comtesse)
  • Château Ducru-Beaucaillou, St.-Julien
  • Château Cos d'Estournel, St.-Estèphe
  • Château Montrose, St.-Estèphe

Troisièmes Crus

  • Château Kirwan, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château d'Issan, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château Lagrange, St.-Julien
  • Château Langoa Barton, St.-Julien
  • Château Giscours, Labarde-Margaux (Margaux)
  • Château Malescot St. Exupéry, Margaux
  • Château Cantenac-Brown, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château Boyd-Cantenac, Margaux
  • Château Palmer, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château La Lagune, Ludon (Haut-Medoc)
  • Château Desmirail, Margaux
  • Château Calon-Ségur, St.-Estèphe
  • Château Ferrière, Margaux
  • Château Marquis d'Alesme Becker, Margaux

Quatrièmes Crus

  • Château Saint-Pierre, St.-Julien (antigamente Serançan, dividido em Saint-Pierre Bontemps e Saint-Pierre-Sevaistre)
  • Château Talbot, St.-Julien
  • Château Branaire-Ducru, St.-Julien
  • Château Duhart-Milon-Rothschild, Pauillac
  • Château Pouget, Cantenac-Margaux (Margaux)
  • Château La Tour Carnet, St.-Laurent (Haut-Médoc)
  • Château Lafon-Rochet, St.-Estèphe
  • Château Beychevelle, St.-Julien
  • Château Prieuré-Lichine, Cantenac-Margaux (antigamente Château La Prieuré, Prieuré-Cantenac)
  • Château Marquis de Terme, Margaux

Cinquièmes Crus

  • Château Pontet-Canet, Pauillac
  • Château Batailley, Pauillac
  • Château Haut-Batailley, Pauillac
  • Château Haut-Bages-Libéral, Pauillac
  • Château Grand-Puy-Lacoste, Pauillac
  • Château Grand-Puy-Ducasse, Pauillac
  • Château Lynch-Bages, Pauillac
  • Château Lynch-Moussas, Pauillac
  • Château Dauzac, Labarde (Margaux)
  • Château d'Armailhac, Pauillac (antigamente Château Mouton-d'Armailhacq, Mouton-du-Baron Philippe)
  • Château du Tertre, Arsac (Margaux)
  • Château Pédesclaux, Pauillac
  • Château Belgrave, St.-Laurent (Haut-Médoc)
  • Château de Camensac, St.-Laurent (Haut-Médoc)
  • Château Cos Labory, St.-Estèphe
  • Château Clerc-Milon, Pauillac
  • Château Croizet Bages, Pauillac
  • Château Cantemerle, Macau (Haut-Médoc)

Os vinhos brancos, considerados de menor importância que os tintos para esta região, se limitam às variedades doces Sauternes e Barsacs e possuem apenas 2 classificações. Porém, o Sauternes Château d'Yquem foi considerado tão notório que mereceu uma classificacão especial: Premier Cru Supérieur.

Propriedade do Château d'Yquem

Rótulo raro do Sauterne Château d'Yquem (1890)

Premier Cru Supérieur

  • Château d'Yquem, Sauternes
Premiers Crus
  • Château La Tour Blanche, Bommes (Sauternes)
  • Château Lafaurie-Peyraguey, Bommes (Sauternes)
  • Château Clos Haut-Peyraguey, Bommes (Sauternes)
  • Château de Rayne-Vigneau, Bommes (Sauternes)
  • Château Suduiraut, Preignac (Sauternes)
  • Château Coutet, Barsac
  • Château Climens, Barsac
  • Château Guiraud, Sauternes
  • Château Rieussec, Fargues (Sauternes)
  • Château Rabaud-Promis, Bommes (Sauternes)
  • Château Sigalas-Rabaud, Bommes (Sauternes)

Deuxièmes Crus

  • Château de Myrat, Barsac
  • Château Doisy Daëne, Barsac
  • Château Doisy-Dubroca, Barsac
  • Château Doisy-Védrines, Barsac
  • Château d'Arche, Sauternes
  • Château Filhot, Sauternes
  • Château Broustet Barsac
  • Château Nairac, Barsac
  • Château Caillou, Barsac
  • Château Suau, Barsac
  • Château de Malle, Preignac (Sauternes)
  • Château Romer, Fargues (Sauternes)
  • Château Romer du Hayot, Fargues (Sauternes)
  • Château Lamothe, Sauternes
  • Château Lamothe-Guignard, Sauternes

A Classificação de Saint Emilion

Ausente da lista de 1855, a região marginal de Saint Emilion inciou sua própia clasificação em 1955 para melhorar a demanda e os preços do mercado. A lista é atualizada a cada 10 anos, baseando-se em novas provas de qualidade. Para cada novo lançamento, os vinhos podem ascender ou descender na clasificação. Um vinho pode ser excluído totalmente ao passo que podem-se ajuntar outros. Em 2006, por exemplo, 11 vinhos foram eliminados da lista, se adicionaram 6 e 2 que já estavam  ascenderam na clasificação.
A Classificação de Saint Emilion atualmente etiqueta 15 vinhos como Premiers Grands Crus Classés subdivididos em outras duas clases: A (2 vinhos) e B (13 vinhos). Outros 55 vinhos atualmente estão clasificados como Grands Crus Classés.

 

Premiers Grands Crus Classés A

  • Château Ausone
  • Château Cheval Blanc

Premiers Grands Crus Classés B

  • Château Angélus
  • Château Beauséjour (Duffau-Lagarrosse)
  • Château Beau-Séjour Bécot
  • Château Belair
  • Château Canon
  • Château Figeac
  • Château La Gaffelière
  • Château Magdelaine
  • Château Pavie
  • Château Pavie-Macquin
  • Château Troplong Mondot
  • Château Trottevieille
  • Clos Fourtet


Cheval Blanc de 2000, uma safra excepcional.

O inclassificável terroir Pomerol 

A pequena região de Pomerol, possui propriedades que não pertencem a nenhuma das classificações para as regiões de Medoc ou Saint Emillion. Duas propriedades alcançaram notoriedade equivalente em preço e avaliação aos 1ers. Crus das listas anteriores: Pétrus e o Château Le Pin. Pétrus produz um dos melhores, senão o melhor entre todos os Bordeaux. Uma outra propriedade, o Château Trotanoy vem adquirindo recentemente excelente desempenho nas avaliações.

O imbatível Pétrus

Existem várias críticas, fundamentadas pelos maiores experts no assunto como Robert Parker, Alexis Lichine, Henri Enjalbert, Clive Coates e David Peppercorn, de que as classificações anteriores são obsoletas e incompletas. Várias outras listas são realizadas e atualizadas anualmente por enólogos e afins. Uma outra lista que existe desde 1932 e está sob litígio na França é a classificação Cru Bourgeois, dos excluídos da região de Medóc pela Classificação de 1855.

Como se vê, o bilionário mercado vinícola de Bordeaux produz discórdia, polêmica e confusão além das boas lembranças que uma experiência única de degustação podem proporcionar.