A reputação do nome Bordeaux é tão antiga e tradicional quanto o significado de uma palavra igualmente única para os franceses: terroir. Sem tradução em nenhum outro idioma, significa a relação mais íntima entre o solo e o micro-clima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva, que expressa livremente sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho.
Já a palavra Bordeaux deriva de bord de l’eau que significa “beira d’água", em razão dos rios Garonne e Dordogne, que se juntam formando o estuário Gironde, que desemboca no Oceano Atlântico. É considerada a maior e mais importante região vinícola do mundo com, aproximadamente, 115 mil hectares de vinhedos.
Mas "Bordeaux" passa a ser sinônimo de qualidade oficialmente a partir de 1855, quando foram classificados os melhores vinhos daquela região de domínio. A história conta que o objetivo da classificação se deve a um pedido do Imperador Napoleão III (neto de Napoleão Bonaparte) ao Sindicato dos Corretores de Vinho para que fossem exibidos os melhores rótulos na Exposição Universal de Paris do ano seguinte.
A classificação se baseava no preço (que na época se relacionava diretamente com a qualidade) e na reputação dos Châteux, que pertenciam exclusivamente a terroirs Médoc e adjacentes para tintos, bem como os Sauternes/Barsacs para brancos. Entre os tintos, inicialmente foram classificados 58 propriedades em: Premiers Cru, Deuxièmes Cru, Troisièmes Cru, Quatrièmes Cru e Cinquièmes Cru.
Poucas modificações foram realizadas no seleto "clube" excepcional. Primeiramente quando, em 1856, o Château Cantemerle obteve a classificação Cinquième Cru. Mais recentemente em 1973, quando o Château Mouton Rothschild foi promovido de Deuxièmes Cru para 1er Cru, após décadas de intenso lobby exercido pelo poderoso Philippe de Rothschild. Uma mudança menos conhecida aconteceu com a eliminação do Château Dubignon, um Troisièmes Crus de St.-Julien que acabou incorporado ao Château Malescot St. Exupéry.
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Rótulo de um 1er Cru. Nem sempre existe qualquer referência à classificação num Bordeaux de qualidade. |
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Chateau Margaux |
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Margaux de 1982 |
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Adega Lafite Rothschild |
Assim, atualmente, a lista com 61 propriedades é a que se segue:
Premiers ou 1er Crus
Château Lafite Rothschild, município de Pauillac, Haut-Médoc (antigamente Château de la Fite, Laffite, Lafitte)
Château Latour, município de Pauillac, Haut-Médoc (antigamente La Tour de Segur)
Château Margaux, município de Margaux (antigamente Château Margau)
Château Haut-Brion, município de Pessac, Graves (antigamente Château Hautbrion, Houtbrion, Ho-Bryan, Obryan, Ho Bryen)
O único Château situado em Graves, ao invés de ser em Médoc e, portanto, o único Château da lista a que se permite vender vinho branco seco com mesmo nome e denominação do tinto.
Château Mouton Rothschild, município de Pauillac, Haut-Médoc
(reclassificado de Second Cru em 1973) (antigamente Château Branne-Mouton)
Seconds Crus, às vezes escrito como Deuxièmes Crus
Château Rauzan-Ségla, Margaux
Château Rauzan-Gassies, Margaux
Château Léoville-Las Cases, St.-Julien
Château Léoville-Poyferré, St.-Julien
Château Léoville Barton, St.-Julien
Château Durfort-Vivens, Margaux
Château Gruaud-Larose, St.-Julien
Château Lascombes, Margaux
Château Brane-Cantenac, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château Pichon Longueville Baron, Pauillac (conhecido normalmente como Pichon Baron)
Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande, Pauillac (conhecido normalmente como Pichon Lalande ou Pichon Comtesse)
Château Ducru-Beaucaillou, St.-Julien
Château Cos d'Estournel, St.-Estèphe
Château Montrose, St.-Estèphe
Troisièmes Crus
Château Kirwan, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château d'Issan, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château Lagrange, St.-Julien
Château Langoa Barton, St.-Julien
Château Giscours, Labarde-Margaux (Margaux)
Château Malescot St. Exupéry, Margaux
Château Cantenac-Brown, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château Boyd-Cantenac, Margaux
Château Palmer, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château La Lagune, Ludon (Haut-Medoc)
Château Desmirail, Margaux
Château Calon-Ségur, St.-Estèphe
Château Ferrière, Margaux
Château Marquis d'Alesme Becker, Margaux
Quatrièmes Crus
Château Saint-Pierre, St.-Julien (antigamente Serançan, dividido em Saint-Pierre Bontemps e Saint-Pierre-Sevaistre)
Château Talbot, St.-Julien
Château Branaire-Ducru, St.-Julien
Château Duhart-Milon-Rothschild, Pauillac
Château Pouget, Cantenac-Margaux (Margaux)
Château La Tour Carnet, St.-Laurent (Haut-Médoc)
Château Lafon-Rochet, St.-Estèphe
Château Beychevelle, St.-Julien
Château Prieuré-Lichine, Cantenac-Margaux (antigamente Château La Prieuré, Prieuré-Cantenac)
Château Marquis de Terme, Margaux
Cinquièmes Crus
Château Pontet-Canet, Pauillac
Château Batailley, Pauillac
Château Haut-Batailley, Pauillac
Château Haut-Bages-Libéral, Pauillac
Château Grand-Puy-Lacoste, Pauillac
Château Grand-Puy-Ducasse, Pauillac
Château Lynch-Bages, Pauillac
Château Lynch-Moussas, Pauillac
Château Dauzac, Labarde (Margaux)
Château d'Armailhac, Pauillac (antigamente Château Mouton-d'Armailhacq, Mouton-du-Baron Philippe)
Château du Tertre, Arsac (Margaux)
Château Pédesclaux, Pauillac
Château Belgrave, St.-Laurent (Haut-Médoc)
Château de Camensac, St.-Laurent (Haut-Médoc)
Château Cos Labory, St.-Estèphe
Château Clerc-Milon, Pauillac
Château Croizet Bages, Pauillac
Château Cantemerle, Macau (Haut-Médoc)
Os vinhos brancos, considerados de menor importância que os tintos para esta região, se limitam às variedades doces Sauternes e Barsacs e possuem apenas 2 classificações. Porém, o Sauternes Château d'Yquem foi considerado tão notório que mereceu uma classificacão especial: Premier Cru Supérieur.
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Propriedade do Château d'Yquem |
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Rótulo raro do Sauterne Château d'Yquem (1890) |
Premier Cru Supérieur
- Château d'Yquem, Sauternes
Premiers Crus
- Château La Tour Blanche, Bommes (Sauternes)
- Château Lafaurie-Peyraguey, Bommes (Sauternes)
- Château Clos Haut-Peyraguey, Bommes (Sauternes)
- Château de Rayne-Vigneau, Bommes (Sauternes)
- Château Suduiraut, Preignac (Sauternes)
- Château Coutet, Barsac
- Château Climens, Barsac
- Château Guiraud, Sauternes
- Château Rieussec, Fargues (Sauternes)
- Château Rabaud-Promis, Bommes (Sauternes)
- Château Sigalas-Rabaud, Bommes (Sauternes)
Deuxièmes Crus
Château de Myrat, Barsac
Château Doisy Daëne, Barsac
Château Doisy-Dubroca, Barsac
Château Doisy-Védrines, Barsac
Château d'Arche, Sauternes
Château Filhot, Sauternes
Château Broustet Barsac
Château Nairac, Barsac
Château Caillou, Barsac
Château Suau, Barsac
Château de Malle, Preignac (Sauternes)
Château Romer, Fargues (Sauternes)
Château Romer du Hayot, Fargues (Sauternes)
Château Lamothe, Sauternes
Château Lamothe-Guignard, Sauternes
A Classificação de Saint Emilion
Ausente da lista de 1855, a região marginal de Saint Emilion inciou sua própia clasificação em 1955 para melhorar a demanda e os preços do mercado. A lista é atualizada a cada 10 anos, baseando-se em novas provas de qualidade. Para cada novo lançamento, os vinhos podem ascender ou descender na clasificação. Um vinho pode ser excluído totalmente ao passo que podem-se ajuntar outros. Em 2006, por exemplo, 11 vinhos foram eliminados da lista, se adicionaram 6 e 2 que já estavam ascenderam na clasificação.
A Classificação de Saint Emilion atualmente etiqueta 15 vinhos como Premiers Grands Crus Classés subdivididos em outras duas clases: A (2 vinhos) e B (13 vinhos). Outros 55 vinhos atualmente estão clasificados como Grands Crus Classés.
Premiers Grands Crus Classés A
- Château Ausone
- Château Cheval Blanc
Premiers Grands Crus Classés B
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Cheval Blanc de 2000, uma safra excepcional. |
O inclassificável terroir Pomerol
A pequena região de Pomerol, possui propriedades que não pertencem a nenhuma das classificações para as regiões de Medoc ou Saint Emillion. Duas propriedades alcançaram notoriedade equivalente em preço e avaliação aos 1ers. Crus das listas anteriores:
Pétrus e o
Château Le Pin.
Pétrus produz um dos melhores, senão
o melhor entre todos os Bordeaux. Uma outra propriedade, o
Château Trotanoy vem adquirindo recentemente excelente desempenho nas avaliações.
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O imbatível Pétrus |
Existem várias críticas, fundamentadas pelos maiores experts no assunto como Robert Parker, Alexis Lichine, Henri Enjalbert, Clive Coates e David Peppercorn, de que as classificações anteriores são obsoletas e incompletas. Várias outras listas são realizadas e atualizadas anualmente por enólogos e afins. Uma outra lista que existe desde 1932 e está sob litígio na França é a classificação
Cru Bourgeois, dos excluídos da região de Medóc pela Classificação de 1855.
Como se vê, o bilionário mercado vinícola de Bordeaux produz discórdia, polêmica e confusão além das boas lembranças que uma experiência única de degustação podem proporcionar.