quinta-feira, 17 de março de 2011

A Grande Onda de Kanagawa

Desde a idade de 6 anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos 50 havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos 60 não deve ser levado em conta. Aos 73 compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos. Em conseqüência, aos 80 terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrarei no mistério das coisas; aos 100, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento – e quando eu tiver 110 anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo.”

Katsushika Hokusai,
artista japonês, século XVIII e XIX

 神奈川沖浪裏 "The Wave"

O Japão, a milenar cultura do sol nascente, num fatídico dia 11 - e como são fatídicos os dias 11 - reproduziu em realidade a xilogravura de Katsushika Hokusai. A Grande Onda de Kanagawa, ou simplesmente 'The Wave', é uma obra de 1830 e é uma das primeiras obras do período Edo (período conhecido por ser a idade moderna japonesa, após a Restauração Meiji). Vários museus conservam exemplares da obra, como o Guimet em Paris,  o Metropolitan em Nova Iorque, o British Museum em Londres e até mesmo a Biblioteca Nacional da França, geralmente provenientes de coleções privadas do século XIX de xilogravuras japonesas.

Nesta gravura observa-se uma enorme onda que ameaça um barco de pescadores, na província de Kanagawa, estando o monte Fuji visível ao fundo. As forças da natureza só comprovam, mais uma vez, a nossa fragilidade diante do Cosmos: a onda, o monte Fuji e nós ali representados pelos pescadores, completamente prostrados num barco imaginário que nos conduz, meio que à deriva, a algum lugar. A metáfora de Hokusai não poderia ser mais oportuna para os dias de hoje. Nossa civilização ainda não despertou para temas mais importantes que podem nos poupar inclusive de nós mesmos. O dinheiro (a economia) e as guerras são irrelevantes num momento como esse (não se pode esquecer que o Japão vive num bear market desde os anos 80). Somos muito imaturos diante da complexidade da natureza, de seus desdobramentos e mesmo da idéia de que a dominamos.

Uma catástrofe nuclear que pode fazer da cidade de Tóquio (a maior área urbana do mundo) esvaziar, como em Chernobil, é uma das incertezas que temos agora. Obviamente isso não fará com que o determinismo e a superação do povo japonês seja abalada. Mas fica para nós o aprendizado e a certeza do valor mais importante que representa a vida diante de todos os obstáculos já existentes no mundo (nos cabendo eliminar, jamais criar, novos obstáculos).



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