quinta-feira, 21 de abril de 2011

Há 50 anos, Yuri Gagarin no espaço


Há 50 anos, Yuri Gagarin iniciava a incerta e breve corrida espacial da humanidade. Incerta porque não se conheciam os efeitos da ausência de gravidade e da exposição de raios solares sobre o corpo, era a primeira vez em que se testavam a resistência e o comportamento dos materiais nas situações reais, nem havia chance de resgate ou de abortamento da missão caso algo de inesperado acontecesse. Breve porque a Nasa, que tem o maior orçamento espacial do planeta, está muito perto de ficar sem veículos próprios para mandar seus astronautas para o espaço. A criação da OPEP e a escalada do preço do petróleo, juntamente com o aumento de custos de produção e outras questões de igual importância, tornaram a atividade aeroespacial praticamente inviável. Os maiores símbolos de uma geração, como o Concorde e os Ônibus Espaciais, estão se aposentando sem substitutos, ironicamente, ao passo que a tecnologia está cada vez mais avançando. 


A baixa estatura havia garantido ao major da Força Aérea russa Yuri Alexeievitch Gagarin, então com 27 anos, um lugar na apertada cápsula que o levaria à órbita terrestre. O charme da origem humilde de Gagarin pode tê-lo favorecido na escolha dentre os 19 candidatos pilotos de teste. Nascido na vila de Klushino, a 150 km de Moscou, seu pai era carpinteiro e sua mãe ama-de-leite. A família foi forçada a viver em uma pequena cabana quando a vila foi queimada durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial.


Mas meio século depois de sua aventura ter incentivado a corrida espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos, a Rússia libera agora documentos secretos contrários aos rumores de que o cosmonauta fora assassinado por ordem do governo soviético. As mais de 700 páginas de documentos confidenciais mostram, inicialmente, a breve conversa, que entrou para os anais da história, com o pai do programa espacial soviético, Sergei Korolev, que tentava acalmar os nervos do cosmonauta:
“O importante é que temos salsichão para acompanhar aguardente”, brincou Gagarin pouco antes de a nave “Vostok” ser lançada ao espaço em 12 de abril de 1961. “Aí você têm café da manhã, almoço e jantar. Embutidos, balas e chá. Ao todo, 63 peças. Vai voltar engordar”, falou à época Korolev, obsessivo para que o cosmonauta tivesse alimentos suficientes antes de retornar à Terra.
A integridade de Gagarin foi tal que até teve tempo de rir dos nervosos técnicos que o acompanharam até o interior da Vostok quando, devido a uma falha hermética, tiveram de retirar e colocar cada um dos 32 parafusos que selavam a escotilha.


Logo em seguida, Gagarin pronunciou o famoso “Poyekhali!”, ou “Vamos lá!”, e a Vostok deu partida para a volta no planeta em 108 minutos. Em órbita, exclamou para a posteridade: "A terra é azul".

Os voos experimentais realizados com animais, como a famosa cadela Laika em 1957, demonstraram que o estado vital piorava dramaticamente a partir da terceira volta em torno da terra. Outra preocupação das autoridades dizia respeito à hipótese de Gagarin aterrissar fora do território soviético, por isso a agência oficial de notícias “Tass” preparou um documento informando a todas as nações sobre a possibilidade do cosmonauta vir a aterrissar em seu solo. O próprio Gagarin, muito consciente do risco da gravidade zero, escreveu uma carta a sua esposa, na qual dava permissão para casar-se novamente e pedia que educasse suas duas filhas “não como pequenas princesas, mas como pessoas normais”. Finalmente, a Tass emitiu um documento com o título: “Sobre o bem-sucedido retorno do homem do primeiro voo espacial” no qual dizia que “às 10h55 no horário de Moscou a nave espacial Vostok aterrissou na região prevista da União Soviética”.

Também na semana passada, ao som de Space Oddity de David Bowie, a música de abertura do show do U2 em São Paulo, a banda homenageou os 50 anos do primeiro voo espacial tripulado em volta da terra:




"Para ver o azul, olhamos para o céu. A Terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de nostalgia? O inalcancável é sempre azul."

Clarisse Linspector (a respeito de Yuri Gagarin em 1967)

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