sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um século e meio sem dor

Nos primórdios alguns cirurgiões consideravam a dor uma conseqüência inevitável do ato cirúrgico, não havendo uma preocupação, por parte da maioria deles, em empregar técnicas que aliviassem o sofrimento relacionado ao procedimento.
As primeiras tentativas de alívio da dor foram feitas com métodos puramente físicos como pressão e gelo, bem como uso de hipnose, ingestão de álcool e preparados botânicos.
Por volta dos séculos IX a XII a esponja soporífera tornou-se um dos métodos mais populares de prover analgesia. Preparada a base de mandrágora e outras ervas, tinha como seus principais compostos morfina e escopolamina

O éter dietílico já era um composto conhecido quando no século XVI Paracelsus observou suas propriedades anestésicas em galinhas.

Cartaz do espetáculo mambembe onde Colton utiliza o Óxido Nitroso, tido com 'Gás Hilariante'.

O Cirurgião-Dentista Horace Wells percebeu as propriedades anestésicas do óxido nitroso em 10 de dezembro de 1844, quando participou de uma exibição do "cientista itinerante" Gardner Quincy Colton.
Na ocasião Wells notou que um jovem chamado Samuel Cooley não se deu conta que havia sofrido uma lesão na perna enquanto estava a inalar o óxido nitroso. Em 1845 Wells fracassou em sua tentativa de demonstrar publicamente uma extração dentária sem dor com o uso do óxido nitroso. Tal fracasso o perturbou profundamente culminando com seu suicídio em 1848. Na verdade o óxido nitroso é uma droga mais analgésica do que anestésica (é um fraco anestesico).

Reprodução artística da primeira anestesia realizada por Morton no Massachussets General Hospital

Em 16 de Outubro de 1846 a anestesiologia teve seu marco inicial com William Thomas Green Morton realizando uma anestesia com éter, chamado por ele de Letheon para proteger seu segredo, no paciente Edward Gilbert Abbott para que o cirurgião John Collins Warren excisasse um tumor que lhe tomava a glândula sub-maxilar e uma parte da língua. O feito se deu no Hospital Geral de Massachussets, Boston. Morton chegou atrasado* devido a um problema no inalador e a sessão quase foi suspensa por isso. Chegou esbaforido, desculpando-se pelo atraso e logo foi instruindo Abbott a respirar por uma das aberturas do inalador de vidro. Depois de perder a consciência e deixar cair a cabeça, Morton se vira para Warren e diz: 'Seu paciente está a sua espera Doutor!'. Warren fez a excisão do tumor com a rapidez habitual e o paciente não desferiu nenhum grito de dor. Depois de terminar, Warren, emocionado, fala para a plateia incrédula: 'Isso, senhores, não é nenhum embuste'. O impassível cirurgião chorava. Desde esse dia a humanidade venceu a dor. Saímos das trevas.

Inalador utilizado por Morton

Em 1847 Roberto Haddock Lobo e Domingos de Azevedo Marinho realizaram a primeira anestesia baseada em éter que se tem relato no Brasil. Existem registros de que até meados da década de 70 o éter ainda era utilizado no Brasil como agente anestésico combinado. Em 1927 o Prof. Leonidio Ribeiro fez uso do óxido nitroso. O ciclopropano foi utilizado pela primeira vez em 1936 por Álvaro de Araújo Aquino Sales. O ciclopropano era uma substância gasosa inflamável, existindo diversos relatos de explosão em centros cirúrgicos, onde o mesmo se encontrava mal acondicionado. Em 1948 foi fundada a Sociedade Brasileira de Anestesiologia. 


*Nota do blog: Se na primeira anestesia realizada no mundo Morton chegou atrasado, todos os demais colegas anestesistas Brasil afora estão perdoados!




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